21.7.12

Nostalgia 9#

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Eu já não sei mais de nada, perdão. Para mim tanto faz, não importa mais. Se quer ir embora, então feche a porta e leve tudo contigo, adeus. Se quer ficar, pegue uma cadeira e sente-se junto a mim. Mas saiba, que daqui não sairá uma palavra se quer. De mim, o máximo que terá será o meu mais profundo e irritante silêncio. Onde eu falo tudo, mas não digo absolutamente nada. Tente descobrir o que eu quero dizer em tal situação embaraçosa que é o silêncio. Leia os meus olhos, se for capaz. 
Eu sinto muito, mas não sei o por que, só sei que a partir de hoje será assim. O gelo que não derrete do meu coração está me deixando resfriada, cada vez mais vulnerável e cansada. Desculpe se prefiro manter uma certa distância, me manter afastada por dias, sumir do mapa sem dar notícias. Para mim tanto faz, e sei que para todos os outros também. 
Sou o peixe enroscado na rede, iludido, enganado. Um pobre e inocente peixe que nem se quer aprendeu a amar, nem se quer soube viver corretamente, se é que existe uma maneira correta de se viver. Era jovem demais para isso. Tanta pressão, tantas cobranças e reclamações. Onde está a vida que por aqui costumava reinar? Essa é uma boa pegunta, que infelizmente, nunca irei obter uma resposta convincente. 
Observo as almas penadas que pelas ruas vagam solitárias. Passam umas pelas outras, dão bom dia como de costume, surge um breve sorriso em seus rostos. Dois passos dados à frente, e os sorrisos somem das faces enrugadas e envelhecidas — não pela idade, mas pelos problemas que cada um carrega consigo. Parecem viver bem, ter uma vida estável, uma família unida, mas nunca se sabe da dor que cada um carrega dentro do coração. Muitos usam as máscaras invisíveis. Sou uma dentre esses muitos. É uma ótima forma capaz de enganar qualquer um, um excelente disfarce. Todos os fantasmas vagantes possuem suas próprias máscaras. Eles sim são verdadeiros atores. Sabem atuar impecavelmente; conseguem esconder uma lágrima com um sorriso, conseguem esconder a dor com uma simples piada e dominam a arte de falar que estão bem quando na verdade, estão desabando por dentro. Poucos sabem, mas essas máscaras são capazes de deixar qualquer um exausto de usar. Por mais leves e invisíveis que são, elas pesam e machucam. É melhor a dor e o peso da máscara e as pessoas acreditam que estamos bem, do que a dor e o peso da nossa vergonha e as pessoas sabendo pelo o que estamos passando. 
Passo o meu tempo tentando achar algo útil para fazer, algo que me faça esquecer das coisas ruins da vida. Sempre acabo não achando nada e me deparo com uma pessoa desconhecida no espelho. Quem seria aquela garota? Apesar de eu estar na frente do espelho e estar ciente de que ele deveria me refleti, acabo estranhando. Me estranhando. Como estou diferente, tanto interiormente quanto exteriormente. Não me reconheço mais. Talvez não só pela aparência decadente, mas pelo jeito que ando me comportando, os pensamentos que ando tendo e a forma que eu estou vivendo. Está tudo muito estranho, como se eu soubesse que uma hora ou outra tudo iria acabar — e irá, eu sei disso. Mas parece que o fim está cada vez mais próximo, parece que ele está vindo engatinhando, esperando o momento certo e não muito demorado. 
Já chegou a pensar em como nós seres humanos acabamos? Enterrados à sete palmos abaixo da superfície, dentro de um caixão fechado, porém vulnerável à entrada de pequenos animais. Quem diria que tudo aquilo que um dia vivemos, se torna simplesmente em vão e você acaba sendo comido por insetos. Você passa de um humano cheio de vida, para apenas um esqueleto no caixão e um fantasma lá em cima, uma lembrança onde só pode estar presente em fotos ou no próprio túmulo. É esse mesmo o propósito da vida? Tudo para nada? 

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